
Operação policial deflagrada no Rio foi resultado de investigação que durou mais de um ano
A operação policial deflagrada nessa terça-feira (28), no Rio de Janeiro, foi antecedida por uma investigação que durou mais de um ano.
As investigações que levaram à operação desta terça-feira (28) identificaram 94 bandidos do Comando Vermelho que estariam escondidos nos complexos do Alemão e da Penha. Acusados de assassinatos, tráfico de drogas, roubos de carros, entre outros crimes, que, segundo a polícia, usam o local para se esconder.
As 27 favelas dos dois complexos, na Zona Norte do Rio, ficam próximas a duas importantes vias da cidade: a Linha Vermelha, que liga o Centro à Baixada Fluminense e dá acesso ao Aeroporto Internacional do Galeão, e a Linha Amarela, que liga a Barra da Tijuca à Ilha do Governador.
O Alemão e a Penha ficam localizados em áreas montanhosas da cidade, cercados por matas, o que facilita a fuga de bandidos. A polícia afirma que as ordens para a tomada de territórios no estado passam por dois chefes da facção: Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que cumpre pena em um presídio federal; e Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso. Ele está solto e tem 269 anotações criminais e 26 mandados de prisão abertos.
Nesta terça-feira (28), o Disque-Denúncia aumentou de R$ 1 mil para R$ 100 mil a recompensa por informações que levem à prisão dele. Esse valor só tinha sido oferecido uma vez, por informações que levassem ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Nos últimos quatro anos, só o traficante Doca comandou a expansão do Comando Vermelho para quase 50 áreas entre bairros e favelas da capital e da Baixada Fluminense. Entre estes locais, a chamada Grande Jacarepaguá - 16 bairros na Zona Sudoeste que, em três anos, foram dominados pela quadrilha. São localidades que ficam entre duas grandes florestas: da Tijuca e do Parque da Pedra Branca - próximo às orlas da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes.
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Uma guerra que deixou muitas mortes. Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio mostram que, nos três primeiros anos da expansão nesses 16 bairros, foram registrados 833 assassinatos. Segundo a polícia, a maior parte deles decorrente da disputa entre o Comando Vermelho e grupos rivais.
Os investigadores também mostraram como a quadrilha impõe castigo a moradores, como uma mulher, que teria brigado em um baile funk e foi colocada em uma banheira de gelo, por horas, como castigo.
Essa expansão do Comando Vermelho vai muito além do Rio. O último levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen) mostra que a quadrilha já está em 24 estados do Brasil e no Distrito Federal. É uma espécie de intercâmbio do crime. Na operação desta terça-feira (28), 30 alvos eram bandidos de outros estados, entre eles, chefes do Comando Vermelho da Bahia, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Pará.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, atribuiu o crescimento do Comando Vermelho à ADPF 635, que restringia operações policiais em comunidades do Rio:
“Depois de cinco anos de ADPF, muitas barricadas, muita dificuldade para polícia entrar. Ainda assim, é o que nós chamamos de filhotes dessa DPF maldita”.
Em junho de 2020, por causa do aumento da letalidade policial, o STF - Supremo Tribunal Federal determinou que só fossem feitas operações em comunidades do Rio em casos excepcionais e estipulou regras, como proibição do uso de escolas e unidades de saúde como base policiais durante as ações. E propôs um plano, se comprometendo a rever as práticas em operações.
O STF aceitou o plano, mas impôs condições. Entre elas, que o governo do Rio apresentasse uma proposta de reocupação dos territórios dominados pelo crime organizado. O governo cumpriu parte dessas determinações e, no último dia 15, sinalizou ao STF que pretende retomar o controle da Grande Jacarepaguá, na Zona Sudoeste da cidade.
Durante a operação desta terça-feira (28), Cláudio Castro disse que é preciso integração com o governo federal:
“O Supremo Tribunal Federal falou, em uma decisão - a primeira da história conjunta dos 11 ministros - que esse financiamento e essa integração têm que acontecer. Eu prefiro ser otimista e acreditar que, já que não por vontade própria, por imposição do Supremo Tribunal Federal, essa integração acontecerá por livre e espontânea pressão”.
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O governador também reclamou que não foi atendido em um pedido feito às Forças Armadas para usar os blindados em outras ações no Rio de Janeiro:
“Infelizmente, dessa vez, como ao longo desse mandato inteiro, não temos o auxílio nem de blindados, nem de nenhum agente das forças federais, nem de segurança, nem de defesa. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com a segurança urbana, realmente nós deveríamos ter um apoio muito maior. Talvez, até mesmo, nesse momento, até de Forças Armadas porque essa é uma luta que já extrapolou toda ideia de segurança pública. Por isso, essa integração é tão importante. Isso aqui não é uma briga política. Na verdade, é um clamor por ajuda. As forças de segurança do Rio de Janeiro estão sozinhas”.
Fonte: noroeste news