Quem cuida e protege a saúde emocional dos protetores de animais? A questão foi um dos pontos da discussão promovida pela Comissão de Proteção e Bem-Estar Animal para celebrar o Dia do Protetor de Animais, comemorado em 10 de agosto.
O colegiado, presidido pela deputada Janete de Sá (PSB), recebeu a psicóloga Ana Paula da Silva Dettmann. Além de atuar na psicologia, Dettmann também é protetora de animais. Sua palestra abordou o tema “Entre resgates e emoções: o equilíbrio emocional do protetor de animais”. Ela falou dos inúmeros benefícios proporcionados na relação com os bichos, mas também alertou sobre a exaustão a que os protetores acabam sendo submetidos, dadas as dificuldades e o excesso de trabalho que os cuidados com animais requerem.
Para a psicóloga, a presença de um animal na vida das pessoas tem grande relação com a questão do “propósito de vida” e funciona como uma rede de apoio, de redução de danos. “Uma pessoa no intenso sofrimento pode se relacionar com o animalzinho dela e até mesmo evitar decisões mais trágicas na sua vida, como as relacionadas à ideação suicida. Algumas pessoas desistem de acabar com a própria vida porque elas se relacionam, com vínculo de amor e responsabilidade, com os animais. Elas não desistem de viver porque têm um outro ser para cuidar”, avalia a especialista, que atua no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) 3 de Vitória, localizado no bairro São Pedro.
Exaustão
Mas, ao mesmo tempo em que os animais são capazes de produzir tamanho benefício para os seres humanos, os cuidados com os bichos também podem exaurir, conforme alertou a palestrante.
Dettman lembrou que os protetores podem sofrer até mesmo com Síndrome de Burnout, distúrbio psíquico que ocorre pelo esgotamento físico e mental diante de situações de trabalho extenuantes. Isso porque, por mais que se busque, nunca é possível cuidar e resolver o problema de todos os animais em sofrimento.
“A gente se relaciona com os animais e nunca vai conseguir fechar a conta. E como lidar com isso? Com essa culpa e exaustão? A relação dos protetores com seus animais pode resultar em traumas secundários, assim como os médicos em centros cirúrgicos (que convivem com a dor dos seres humanos) porque lidam com todo o sofrimento dos animais abandonados e maltratados em tempo contínuo. Os cuidados não são só de carinho, afeto e amor. Precisa de dinheiro, tempo… E como prover isso sem ser por uma via pública?”, questionou a palestrante, referindo ao papel do poder público.
Para a profissional, algumas possibilidades para enfrentar esses problemas estão na busca de ajuda emocional por parte dos cuidadores e, principalmente, na instituição de políticas públicas que deem suporte efetivo a essas pessoas e aos animais cuidados por elas.
Políticas públicas
Outro tema debatido durante a reunião foi o protagonismo dos protetores de animais na construção de políticas públicas eficazes na área. O assunto foi abordado pela gerente de Bem-Estar Animal da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Vitória, Katiuscia Pinto Rodrigues Oliveira, que também é integrante da organização não governamental Sociedade Protetora dos Animais do Espírito Santo (Sopaes).
A palestrante disse que o trabalho diário e a vivência dos protetores garantem a eles conhecimento e experiência suficientes para saber o que de fato pode dar resultado no trabalho de proteção aos animais. Por isso, é preciso interlocução do poder público com os tutores para a instituição de políticas adequadas para o setor.
A gerente citou os principais problemas que demandam soluções permanentes. Um deles é a presença de animais errantes e em sofrimento nas ruas das cidades. Para essa questão uma das alternativas é a adoção de ações efetivas para prevenção ao abandono.
A ausência de políticas públicas ou mesmo a instituição de políticas ineficazes foi outro problema apontado pela palestrante. Katiuscia reforçou a necessidade de que as instituições, os grupos de proteção animal e os protetores participem ativamente na elaboração dessas políticas.
O despreparo das equipes de execução das políticas municipais e a falta de integração dos serviços das cidades, referentes aos cuidados com os animais, também foram gargalos citados pela gerente. Para ela é preciso garantir diálogo, mas também treinamento adequado e definição de competências entre servidores. Ela também defendeu adoção de protocolos de atendimento para a execução dos serviços disponíveis na área.
Outro grande problema no cuidado com os animais diz respeito, segundo a palestrante, à escassez de recursos, além da limitação psicológica e financeira dos protetores dos animais. Para isso seriam necessárias políticas públicas de suporte, tanto para os animais como para quem cuida deles.
O aumento crescente no número de pessoas consideradas acumuladores de animais e a reprodução dos bichos, com práticas cruéis em canis (clandestinos ou não) também foram apontados como questões a serem solucionadas por meio de políticas públicas, para as quais os protetores devem ser ouvidos.
Agradecimento
A presidente da Comissão de Proteção e Bem-Estar Animal, Janete de Sá, agradeceu às palestrantes pelos ensinamentos aos presentes, que lotaram o Auditório Augusto Ruschi, na Ales. “O que seria da proteção animal se não tivesse pessoas abnegadas e dedicadas como vocês?”, destacou Janete.
Para homenagear os protetores, a parlamentar informou que está dando entrada em um projeto na Ales para criar a Comenda do Mérito Legislativo Francisco de Assis, santo da Igreja Católica conhecido como protetor dos animais e da natureza.
A parlamentar também falou sobre a importância do trabalho desenvolvido pela comissão permanente, e, também, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os maus-tratos contra animais. Janete afirmou que a CPI recebe denúncias diariamente e, mesmo com pequena estrutura, realiza um trabalho gigante na fiscalização, no acompanhamento de denúncias, na interlocução com o poder público para impedir os maus-tratos e garantir a proteção e o bem-estar animal.
“Estamos agindo. Não é fácil porque somos poucos e sem recursos. E ainda com um número muito grande de protetores que estão adoecidos por conta de sentir uma carga que não é deles. Mas o amor faz com que eles se sintam culpados e responsáveis. Então cuidar do protetor é mais uma preocupação que temos que ter”, disse a deputada.
Após as palestras, os participantes abordaram questões diversas sobre a defesa animal do Estado, como controle de doenças, necessidade de hospital público veterinário, suporte aos cuidadores, entre outros. Janete de Sá informou que o colegiado vai continuar com o debate sobre os assuntos tratados e vai buscar alternativas para as demandas pontuadas na reunião.
Fonte: POLÍTICA ES